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Pensamiento, Mundo :: 23/02/2009

Georges Labica: Mestre, amigo e camarada

Virgínia Fontes
Na madrugada do dia 12 deste mês, faleceu na França o filósofo e militante revolucionário Georges Labica, vitimado por uma hemorragia cerebral

Ao contrário do que sucedeu um pouco por todo o mundo, a morte de Georges Labica, um dos filósofos marxistas mais talentosos e criativos do século XX, deu azo a destacadas notícias, comentários e artigos, em jornais dos mais diversificados quadrantes ideológicos, a comunicação social portuguesa, por ignorância ou sectarismo, ignorou o triste acontecimento. Publicamos hoje um texto de Virgínia Fontes, Professora da Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e amiga e colaboradora de odiario.info, enviou-nos este texto de evocação de Georges Labica, também ele nosso amigo e colaborador.

Na madrugada do dia 12 deste mês, faleceu na França o filósofo e militante revolucionário Georges Labica, vitimado por uma hemorragia cerebral. O enterro foi no dia 17/02/09, no cemitério de Le Pecq, pequena cidade próxima a Paris, onde ele e sua mulher, Nadya, residiam. Como falar das perdas que a morte de Georges Labica representa para mim? Como falar do tanto que conservo dele?

É a capacidade humana de compreender, explicar e enfrentar as contradições, capacidade da qual ele foi plenamente plasmado, o que melhor traduz para mim o homem formidável que foi Georges Labica. Fui sua estudante de doutorado – e ele foi rigoroso e exigente, mas sempre doce e afável. Ele, sua família e o grupo de pesquisa que dirigia me acolheram generosamente, quando me sentia uma avezinha perdida no inverno universitário dos tempos neoliberais. Eu devo a Georges Labica uma das mais ricas experiências da minha vida. Com ele, compreendi como o trabalho intelectual reforça a exigência da militância, aprendi que o verdadeiro comunista devia ser sempre um intelectual e um pesquisador. Não bastava declarar uma opção teórica: era precisa soldá-la com trabalho, forjá-la nos debates, consolidá-la nas pesquisas, submetê-la à ação. Sobretudo, era preciso nunca se deixar desviar por soluções de facilidade ou de compromisso. Georges permanece para mim o mais sólido parâmetro de um intelectual, de um marxista, de um comunista. Coerência, rigor, proximidade nas lutas e, ao mesmo tempo, a abertura para compreender os camaradas, os amigos, os estudantes.

Perco o professor, o amigo, o camarada, o companheiro de lutas. Um verdadeiro comunista, internacionalista, aberto para o mundo e o universal, tomados no sentido forte da palavra. Um homem sempre pronto a combater as falsidades tão corriqueiras nos tempos atuais, a afrontar as as pequenas misérias dos pequenos universitários intelectuais, cuja atuação vela com tristes argumentos os imperialismos e colonizações de todo o tipo. Conservo preciosamente sua lição: a luta se trava nos textos e no mundo. Não consigo ainda falar de Georges no passado. Os milhares de km entre a França e o Brasil jamais constituíram uma distância efetiva entre nós. Georges estava sempre próximo, nos textos, na amizade, na coerência e na exigência generosa, e nos encontros em diversas lutas pelo mundo afora. A cada encontro, eu aprendia um pouco mais.

Nadya, sua companheira de toda a vida, Pierre et Thierry, seus filhos, todos amigos de longa data: nós, em todo o mundo, choramos com vocês a perda de Georges. Meu mais afetuoso abraço para vocês, nessa dor inconsolável. Perdemos o homem, mas conservamos esse gigante em nossas vidas e em nossas lutas.

* Professora da Universidade Federal Fluminense, Brasil

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