Causa Galiza, como organizaçom política que nesta ocasiom se viu envolvida nas consequências dumha grave agressom fascista cometida sobre a pessoa dum dos nossos militantes, quere compartilhar e abrir o debate com o tecido associativista nacional e com os movimentos e militantes populares sobre umha série de reflexons de urgência ao fio dos acontecimentos recentes. Som as seguintes:
1. Sem qualquer tipo de dramatizaçom, a agressom perpetrada em Ferrol implica, devido à sua intensidade, violência e possíveis consequências finais, um gravíssimo salto qualitativo a respeito de atuaçons similares que se cometem periódicamente na Galiza com autoria de sectores fascistas e xenófobos. Se hoje nom temos que lamentar factos irremediáveis nom é devido à intencionalidade dos autores da paliça, que pugérom tudo da sua parte para provocar o pior desenlace imaginável, mas à casualidade: todas as condiçons estavam dadas para que se produzisse o pior dos cenários possíveis.
2. Num contexto como o atual, a finalidade política da agressom parece óbvia à vista do seu método, intensidade e consequências: além de linchar um "rojo de mierda", provocar o pánico nas pessoas e sectores populares que defendem presupostos de ruptura democrática nacional e que som situados automáticamente no alvo da violência fascista. Por outra parte, é sintomática a coincidência espaço-temporal deste tipo de incidentes com o ascenso eleitoral e o aumento da presença eleitoral da extrema direita no Reino de Espanha e com a crise estrutural do regime espanhol de 1978. Que a violência fascista é funcional à saída autoritária da presente crise que prepara um sector da oligarquia espanhola é, da nossa ótica, algo incontornável: a normalizaçom do fascismo nas ruas e na esfera institucional, a permissividade social com certos níveis de impunidade e a instauraçom dumha sorte de terror seletivo som partes consubstanciais deste processo de involuiçom antidemocrática e fascistizaçom.
3. O silêncio dos principais meios de difusom sobre um facto da gravidade do resenhado exibe sem ambiguidades a sua indiferença —quando nom cumplicidade, por ativa ou por passiva— com os agressores e os seus factos. Que a realizaçom de pintagens numha igreja católica seja objeto dum tratamento informativo infinitamente mais intenso do que a tentativa de assassinato dumha pessoa desvela com absoluta claridade quais som os interesses e a escala de prioridades destas empresas e a sua conivência com os autores da tunda. Mais umha vez, a possibilidade dumha informaçom veraz pivotou, exclusivamente, sobre o entramado mediático de orientaçom soberanista.
4. Que os três partidos da extrema direita espanhola na Galiza guardassem estrito silêncio sobre o acontecido indica a sua tolerância e permissividade. Um outro comportamento aplicam quando quem é denunciada é a reaçom política desde o campo popular. O critérioantiterrorista que criminaliza e incluso judicializa e ilegaliza determinadas organizaçons quando nom exprimem o seu repúdio perante certos acontecimentos —vejam-se as duas ediçons da Operación Jaro— bem poderia ser aplicado nesta ocasiom à vista do silêncio de PP,Ciudadanos e Vox perante umha tentativa de assassinato. Evidencia-se que a implementaçom dos chamados delitos de ódio, mais do que procurar a proteçom de minorias sociais discriminadas, pretende a criminalizaçom e repressom exclusivas da dissidência política.
5. Dar cumprida e contundente resposta popular a este tipo de atuaçons é vital para os sectores confrontados com o atual regime neofranquista quando pretende alargar os espaços de impunidade e autoritarismo paraestatais e converter o exercício das liberdades democrático-formais mais primárias em atividade de risco. Esta resposta deve integrar a informaçom e denúncia intensivas e extensivas, a implicaçom dos sectores mais amplos possíveis, a identificaçom dos agentes cúmplices, a açom penal, a solidariedade com as pessoas afetadas e a autodefesa num contexto em que os sectores afetados devem proteger-se perante um fascismo em ascenso e um entramado de partidos, meios, poderes institucionais, corpos repressivos, etc. que maioritariamente optam por colocar-se de perfil.
6. A pervivência do fascismo nos aparatos do Estado espanhol e a vitalidade sociológica que nele apresenta a extrema direita som no tempo a consequência lógica da fraude conhecida como Transición Española, que possibilitou a conversom controlada do regime ditatorial num regime democrático formal mantendo nos postos de direçom os mesmos sectores que pilotavam a situaçom desde 1936. A perspectiva da definitiva superaçom do neofranquismo na Galiza, à vista da correlaçom de forças existente no Reino de Espanha e da inviabilidade da democratizaçom do Estado espanhol em relaçom à questom nacional, passa, necessariamente, polo desenvolvimento dum processo de ruptura democrática nacional e independência. Rematar com o fascismo é, portanto, consubstancial ao exercício unilateral do direito de autodeterminaçom.
Causa Galiza, em 13 de março de 2019